Sucesso profissional é algo subjetivo. Por mais que existam representações sociais coletivas do que é “ser reconhecido na sua área”, cada pessoa entende seu desenvolvimento de carreira a partir da própria evolução, o que varia conforme o momento de vida de cada um. No entanto, nem sempre esse próximo degrau está nítido – e é aí que reside a importância de um plano de carreira sólido, que ajuda cada indivíduo a enxergar seus objetivos tendo em vista seus próprios valores.
É com base nesses preceitos que a psicóloga Rafaela de Faria, doutora em educação e especialista em orientação profissional, auxilia quem deseja construir uma carreira baseada em um planejamento estratégico. Há nove anos, ela fundou o Instituto de Carreira e Orientação Profissional (ICOP) com esse objetivo, e hoje dá atendimentos personalizados a todo tipo de profissional que queira alçar novos rumos e ministra cursos sobre o tema. Foi o caso do curso Desenvolvimento de Carreira em Tempos de Crise, parceria do Centro Europeu com o GazzConecta que disponibilizou gratuitamente uma formação para quem deseja ser protagonista da própria carreira.
“O primeiro passo é parar de comparar sua carreira com a de outras pessoas e entender o que você já construiu, o que precisa melhorar no desenvolvimento técnico e comportamental – também conhecidos por soft e hard skills – e encontrar estratégias para alcançar esses objetivos”, pontua a especialista.”
Para ajudar quem deseja fazer essa reflexão, Rafaela conversou com o GazzConecta e elencou 9 pontos importantes para pensar ao construir um plano de carreira.
Metodologia
A metodologia que embasa o desenvolvimento do plano de carreira é o mapa da decisão. Ele é baseado em cinco passos:
1 – Definir o problema
2 – Estabelecer um plano de ação – o que pode ser baseado em modelos de sucesso ou em profissionais que você admira
3 – Clarear valores e reconhecer necessidades
4 – Identificar as alternativas
5 – Descobrir resultados e tentar antecipar consequências
6 – Eliminar as opções e agir
Busque o Ikigai
“Ikigai” é uma palavra do japonês que significa “razão de viver”. Ela representa o centro das intersecções de um diagrama que converge quatro dimensões: paixão, vocação, profissão e missão de vida. Encontrar esse cerne deve ser o foco de qualquer profissional – o que não é tarefa simples.
Rafaela afirma que são raros são os que conseguem alcançar essa convergência, mas que, em geral, quanto mais integração houver os tópicos, mais próximas as pessoas estão do que consideram o sucesso profissional. “Ele pode ser um objetivo porque tem a ver com um propósito de vida, e quem está mais próximo do Ikigai tem mais satisfação de uma forma geral”, explica.
Tenha consciência do seu momento de vida
Depois de compreender o rumo ideal a ser seguido, é necessário criar pequenas metas que possam ser cumpridas para se aproximar do plano de longo prazo. No entanto, isso varia conforme o momento de vida de cada indivíduo, e tem diversos tipos de limitações que precisam ser consideradas nesse processo.
Dependendo da pessoa, o próximo passo pode ser passar no vestibular, ser aprovado em uma disciplina da faculdade, conseguir o primeiro emprego, uma promoção ou ainda conseguir pagar as contas – o que, Rafaela lembra, é um objetivo para grande parte dos brasileiros, realidade que não deve ser ignorada nem subestimada.
Parece óbvio, mas não tenha medo de errar
Rafaela endossa que é necessário se livrar da ideia de “decisões erradas”, porque elas só serão equivocadas se vistas de um determinado ponto de vista.
“A gente não pode usar a régua do outro para avaliar nossas escolhas. Quando se pensa em desenvolvimento de carreira, não existe escolha certa ou errada – exceto em protocolos como arranjar um emprego, em que você precisa de um currículo e de um perfil no LinkedIn, e precisa se enquadrar em normas sociais e legais esperadas enquanto profissional. Fora isso, não há certo ou errado”, ela explica.
Por isso, o ideal é tentar entender o que se identifica como um erro. Por exemplo: muitas pessoas sentem frustração vergonha de não atuarem na área em que gostariam, mas muitas vezes esse sentimento vem da forma como o indivíduo lida com a opinião do outro.
Oportunidade faz parte do planejamento
Rafaela lembra que um ponto fundamental é o impacto do acaso. Ter planejamento aumenta as chances de alcançar o sucesso, mas é preciso estar atento às oportunidades que não são planejadas.
“Por exemplo: se você conhece uma pessoa em um evento corporativo que trabalha em um lugar em que você sempre sonhou, essa relação pode fazer surgir uma oportunidade. Ou ainda quando você é desligado de uma empresa e, na rescisão do contrato, recebe o suficiente para colocar em prática um sonho antigo de abrir um negócio próprio”, detalha.
Componha soft skills e hard skills
“Sucesso é a soma da oportunidade com a preparação”. Rafaela lembra do ditado para reforçar que as soft skills – habilidades pessoais – são importantes, mas não são nada sem as hard skills, as habilidades técnicas.
“As pessoas esquecem que o discurso de soft skills atinge uma parte muito pequena da população. A maioria das pessoas do Brasil não tem nem educação básica. Então sim, é importante valorizar a educação básica e cursos complementares, como o pacote Office e línguas estrangeiras”, ressalta Rafaela.
Potencialize o que você tem e identifique o que falta melhorar
Outro ponto relacionado às habilidades de cada um é potencializar aquilo no que você é bom e deixar de lado a impressão de que você precisa aprender tudo que foge das suas habilidades.
Se ter novas formações faz parte dos seus objetivos, então foque no que vai te favorecer no futuro: entenda quais são os requisitos das oportunidades que você almeja. “Os requisitos de vagas dão pistas de quais são suas lacunas. Se eu quero alcançar um cargo que requer falar em público, então eu preciso de um curso de oratória”, exemplifica a especialista.
Saia da zona de conforto – ou não
A zona de conforto nem sempre é um inimigo: às vezes o profissional já atingiu um patamar estável da carreira que, para ele, representa seu ideal de sucesso.
“As pessoas têm uma visão de que todo mundo tem que estar o tempo todo querendo um degrau a mais – mas tem gente que está satisfeito com o que tem. O que a gente precisa pensar é no sentido de desenvolvimento contínuo, de novos aprendizados, de aperfeiçoar o que pode ser melhorado”, endossa.
Monitoramento e replanejamento
A mudança é parte de qualquer ser humano e, por isso, o plano de carreira não deve ser fixo – ele deve ser monitorado e atualizado conforme as fases da vida. “É natural que se faça um replanejamento, uma revisão constante dos planos”, pontua a profissional. “Se você não olha para o seu plano, está deixando a vida te levar. Por outro lado, não adianta só colocar no papel: você tem que começar de algum lugar, e ter paciência e persistência”.
Matéria original retirada de: https://www.gazetadopovo.com.br/gazz-conecta/dicas-para-montar-seu-plano-de-carreira-e-ter-sucesso-na-profissao/