Orientação Profissional e de Carreira com Adolescentes Superdotados

Por Dra. Rafaela de Faria e Pedro Lucas Dukeviski

A Orientação Profissional e de Carreira é um processo de intervenção que visa facilitar a tomada de decisão do indivíduo, feito de maneira aprofundada, personalizada e sistêmica. Esse processo adquire nuances ainda mais significativas quando se trata de indivíduos com altas habilidades e superdotação (AHSD), que enfrentam desafios únicos devido à sua capacidade intelectual e cognitiva divergente.

 A presente literatura científica sobre a adolescência apresenta marcos formais que diferenciam índices de desenvolvimento em várias áreas. No entanto, indivíduos com AHSD frequentemente não seguem esses marcos de maneira convencional. Durante a puberdade, muitos já apresentam um desenvolvimento cognitivo e intelectual compatível com a adolescência, desafiando as normas tradicionais de desenvolvimento.

Preocupa-se, então, com a forma pela qual os indivíduos com AHSD lidam em função da sua intensidade com eventualidades que não foram planejadas, com ideais que não possuem concordância com as suas próprias concepções ou, com sistemas que possuem diferentes funcionamentos em relação aos seus padrões. Logo, por possuírem um raciocínio mais rápido e evoluído, será que tais indivíduos precisam se adaptar à sociedade em sua totalidade ou a sociedade tem algo a acrescentar por eles?

Um dos grandes desafios na orientação profissional de adolescentes superdotados é a identificação de seus interesses e habilidades. A capacidade desses indivíduos de se articularem acima da média perante várias atribuições pode criar a ilusão de que possuem capacidade plena para realizar qualquer coisa. Contudo, sabe-se que eles possuem o potencial para desempenhar inúmeras atividades, mas, a vida real exige decisões concretas e adequações contextuais para alcançar o desenvolvimento profissional desejado. A orientação profissional deve, portanto, focar em ajudar esses jovens a identificar áreas específicas de interesse e a tomar decisões informadas sobre suas carreiras. Logo, entende-se que há a busca por escolhas profissionais e escolhas pessoais que mais dispõe de suas altas habilidades, desenvolvendo sua carreira em completude.

 Ademais, entende-se que os pais, escolas e a sociedade brasileira deveriam visualizar o ofício de preparar indivíduos com AHSD não apenas para o mercado de trabalho como potenciais em desenvolvimento, mas, também, para as relações interpessoais e o progresso para além do âmbito escolar e acadêmico. Assim, a integração de hard e soft skills é essencial para que haja um desenvolvimento profissional e pessoal equilibrado. 

Em completude, o conceito de carreira, em um contexto global, é entendido como o desenvolvimento integral dos âmbitos pessoal e profissional do indivíduo. No Brasil, a análise tende a ser mais linear, focada no desenvolvimento profissional dentro de uma empresa, por vezes e unicamente. No entanto, a carreira pode e deve ser desenvolvida em múltiplos espectros, refletindo as diversas possibilidades de crescimento e realização.

 A orientação profissional e de carreira é um processo de intervenção essencial para facilitar a tomada de decisões de maneira personalizada e sistêmica. O primeiro pilar desse processo é o autoconhecimento, que envolve a identificação de habilidades, interesses, particularidades, dificuldades, influências e apoio familiares. Compreender a si mesmo é fundamental para que as escolhas sejam feitas de maneira consciente e alinhadas com as aptidões e desejos pessoais.

 O conhecimento da realidade profissional, incluindo cursos, universidades, profissões e o mercado de trabalho, constitui o segundo pilar. Entende-se, a partir dos pilares apresentados, que a tomada de decisão para com o futuro profissional e construção de carreira, quando feita de maneira segura, consciente e madura, é sustentada por meio do autoconhecimento e compreensão da realidade profissional. 

 O terceiro pilar envolve estratégias para a tomada de decisão. Assim, o profissional realiza aproximações sucessivas para que, desde o início até o final do processo de orientação, o indivíduo se torne responsável e autônomo em suas escolhas, promovendo um desenvolvimento profissional seguro e consciente.

            Para indivíduos superdotados, a exploração de múltiplos potenciais desde cedo é comum. Contudo, é crucial que esses indivíduos compreendam a necessidade de tomar decisões e que elas sejam pautadas em seus potenciais mais espontâneos e fluídos. Essas escolhas podem se manifestar tanto no âmbito pessoal quanto profissional, permitindo uma exploração equilibrada de suas habilidades. De maneira exemplificada, o indivíduo pode optar por explorar tal habilidade em sua vida pessoal e, a partir de outros potenciais, explorar outras áreas em sua carreira profissional!

 Tradicionalmente, a orientação profissional têm-se desenvolvido mais com os adolescentes e, de forma exponencial, para com os estudantes universitários, principalmente visando dados elevados de evasão nas universidades brasileiras. A orientação profissional estende-se também à prevenção e ao planejamento após a conclusão do ensino superior, auxiliando na tomada de decisões sobre áreas de atuação ou pós-graduações, no desenvolvimento no mercado de trabalho e na preparação para a aposentadoria. Isso assegura que os indivíduos estejam preparados para enfrentar as transições e desafios ao longo de suas carreiras.

 Deve-se realçar que nem todas as pessoas, incluindo aquelas com altas habilidades e superdotação, necessitam de orientação profissional. Pois, conseguiram se articular positivamente no meio e realizar suas escolhas profissionais sem a necessidade de orientação externa. Contudo, aqueles que participam desse processo podem obter um discernimento mais amplo sobre si mesmos, além de uma maior segurança e clareza na tomada de decisões. 

 A OP com indivíduos com altas habilidades e superdotação mostra-se necessária, principalmente, por conta do potencial que se traduz em tamanho impacto social. Em suma, a orientação profissional e de carreira para indivíduos superdotados não só facilita o desenvolvimento de suas capacidades únicas, mas também contribui para um impacto social positivo, promovendo um desenvolvimento integral e sustentável. Ao reconhecer e cultivar seus talentos, esses indivíduos podem alcançar um sucesso que transcende o âmbito pessoal, influenciando positivamente a sociedade como um todo.